BIM

BIM: da modelagem à inteligência construtiva, por que essa transformação importa para o presente e o futuro da engenharia brasileira

BIM na prática: o futuro da engenharia de instalações

Por Daniel Sangiorgi Salles, engenheiro e diretor da DHLink Sistemas


1. A urgência de um novo modelo: da fragmentação à inteligência integrada

“BIM não é software, mas um sistema sociotecnológico que, em última análise, envolve mudanças profundas nos processos de projeto, construção e gestão de edificações.” (Eastman, 2021)

A engenharia civil brasileira ainda opera, em grande parte, sob os alicerces de uma lógica fragmentada. Projetos são concebidos isoladamente por disciplinas, executados sob pressão de cronogramas descolados da realidade e, muitas vezes, sustentados por desenhos bidimensionais que já nascem desatualizados.

Esse modelo herdado da cultura do CAD, centrado em documentos estáticos e trocas informais de informação, cria um campo fértil para retrabalhos, conflitos entre sistemas e perda de controle sobre prazos e orçamentos.

A engenharia de instalações vive uma inflexão. Em um setor que historicamente funcionou na base do improviso, da superposição de etapas e da solução reativa de problemas, o BIM (Building Information Modeling) se apresenta como um divisor de águas. Não como promessa, mas como ferramenta concreta de organização, integração e inteligência de projeto.

Para quem está em campo, a diferença é clara: obras que adotam o BIM desde o início têm menos retrabalho, mais previsibilidade e melhor aproveitamento do tempo e da equipe. Mas para que isso se traduza em ganho real, é preciso ir além da modelagem. Neste artigo, vamos falar sobre o que realmente muda na prática com o uso do BIM em instalações prediais e industriais.

É nesse cenário que o BIM se impõe não apenas como tendência, mas como necessidade. Mais do que uma tecnologia, o BIM representa uma mudança estrutural na forma como projetamos, construímos e mantemos edificações. Ele introduz uma nova lógica baseada em dados, colaboração, simulação e rastreabilidade.


2. O que é BIM, de fato: além da modelagem, um sistema de informação construtiva

Reduzir o BIM à modelagem tridimensional é ignorar seu maior valor: a capacidade de estruturar e conectar informações ao longo de todo o ciclo de vida da edificação  da viabilidade ao pós-obra. BIM não é só 3D. É estrutura técnica. Ainda é comum ver o BIM ser confundido com “projeto em 3D”. Mas a diferença central está na estrutura da informação. Cada elemento do modelo é parametrizado com dados específicos: tipo de material, função, data de instalação, local exato, responsável. Essa inteligência técnica é o que permite a automação de listas de materiais, simulação de cenários e detecção de interferências.

Um modelo BIM é um conjunto parametrizado de dados que representa cada elemento da construção com atributos físicos, técnicos, temporais, financeiros e operacionais.

A base para essa comunicação é o formato IFC (Industry Foundation Classes), normatizado pela ISO 16739-1:2017. Ele permite que diferentes softwares e disciplinas troquem dados de forma integrada. Sem isso, a colaboração real não acontece.

A interoperabilidade entre softwares via arquivos IFC (Industry Foundation Classes), padronizados pela ISO 16739-1:2017, permite que diferentes disciplinas trabalhem sobre o mesmo modelo. Isso rompe com a cultura dos arquivos fechados e cria uma plataforma aberta para colaboração técnica. A troca de informações deixa de ser um gargalo e passa a ser um diferencial competitivo.


3. Níveis de detalhamento (LOD) e maturidade BIM: quando o modelo vira ativo estratégico

O conceito de LOD (Level of Development) é central para o BIM. Ele define o grau de confiabilidade das informações presentes no modelo em cada fase do projeto. De representações volumétricas (LOD 100) até modelos as built (LOD 500), é possível construir uma linha evolutiva de dados que acompanha o amadurecimento da edificação.Mais do que controle, o LOD garante previsibilidade.

Com modelos em LOD 300 ou superior, decisões são tomadas com base em dados consolidados, não em suposições. Isso significa menos improviso na obra, mais assertividade no orçamento e maior controle sobre a logística de execução.


4. Planejar com dados: como o BIM revoluciona o cronograma e o orçamento

Com o acréscimo das dimensões 4D (tempo) e 5D (custo), o BIM permite simular cenários logísticos e financeiros antes do início da obra. É possível visualizar a evolução da construção ao longo do tempo, detectar gargalos no sequenciamento de atividades, ajustar recursos e validar a viabilidade econômica do empreendimento.

No Brasil, onde atrasos e estouros de orçamento são recorrentes, o uso do BIM como ferramenta de planejamento ainda é subexplorado. A transição de um cronograma genérico em Excel para um modelo 4D integrado pode representar a diferença entre uma entrega previsível e uma obra à deriva.

Coordenação entre disciplinas: onde o BIM mais entrega valor Grande parte dos atrasos e custos extras em obras está relacionada a falhas de integração entre projetos. Elétrica, hidráulica, automação, climatização e estrutural muitas vezes chegam ao canteiro sem compatibilização.

Com ferramentas como o Clash Detection (ex: Navisworks), é possível identificar interferências entre elementos antes da obra, com relatórios visuais e referências coordenadas. O uso do BCF (BIM Collaboration Format) padroniza a comunicação técnica e reduz ruídos entre escritórios de projeto e executores.


5. BIM como instrumento de conformidade e desempenho

A complexidade normativa da engenharia moderna exige um novo patamar de precisão técnica. Com o BIM, é possível associar aos elementos do modelo informações sobre desempenho térmico, acústico e estrutural, simulando seu comportamento e assegurando conformidade com normas como a NBR 15575 (desempenho) e NBR 15220 (eficiência energética).

Mais do que atender exigências legais, o BIM antecipa a performance da edificação. Isso tem impacto direto em certificações como LEED e AQUA-HQE, além de reduzir o risco de manifestações patológicas por falhas de projeto ou execução.

Projetar pensando na execução: do LOD 100 ao 500 O BIM permite acompanhar o nível de desenvolvimento do projeto (LOD – Level of Development). Cada fase representa um grau de detalhamento e precisão maior:

  • LOD 100: volume geral, sem definições geométricas precisas
  • LOD 200: elementos genéricos com localização e dimensão estimadas
  • LOD 300: representação fidedigna dos elementos reais
  • LOD 400: informações de montagem e instalação
  • LOD 500: modelo como construído (as built)

6. Operação, manutenção e retrofit: o BIM não termina na entrega

Ao contrário de um projeto em CAD, um modelo BIM permanece útil após a conclusão da obra. Em sua dimensão 6D, ele serve como base para gestão de facilities, planejamento de manutenções e controle de garantias. Na fase de operação, o BIM se transforma em um ativo digital da edificação.

Além disso, o BIM é crucial para retrofit e expansão de edificações existentes. A leitura de modelos anteriores evita retrabalhos e permite intervenções mais seguras, especialmente em ambientes como hospitais, centros logísticos ou indústrias em operação.


7. O desafio da adoção no Brasil: cultura, formação e modelo mental

Apesar dos benefícios amplamente documentados, a adoção do BIM no Brasil ainda enfrenta barreiras estruturais. A principal delas não é técnica, mas cultural. A fragmentação entre projetistas, construtoras e instaladoras, aliada à ausência de exigência contratual clara sobre uso e entrega de modelos, dificulta sua implementação.

Falta também formação técnica em larga escala. Engenheiros, arquitetos e gestores de obra precisam ser capacitados não apenas em softwares, mas na lógica de gestão de informação que sustenta o BIM. O Plano de Execução BIM (BEP) deve deixar de ser exceção e se tornar padrão em qualquer contrato relevante.


Conclusão: um novo ciclo de maturidade técnica está em curso

O BIM não é uma promessa. É uma realidade consolidada nos mercados mais avançados e em expansão no Brasil. Ignorar sua aplicação hoje é aceitar operar com margem de erro maior, custos inflados e baixa previsibilidade. Na DHLink, temos clareza de que essa transformação é irreversível — e, sobretudo, necessária.

Acreditamos que o BIM não substitui a engenharia. Ele a amplia. Torna-a mais precisa, colaborativa e inteligente. E é com essa convicção que seguimos estruturando entregas que respeitam o ciclo completo da obra — do projeto à operação.

O que está em jogo é método, não tecnologia Implementar BIM é muito mais sobre mudar a cultura de projeto e obra do que adotar um software. O que o BIM traz de mais valioso é a lógica de planejamento colaborativo, tomada de decisão com base em dados e engenharia orientada à integração.

Na DHLink, atuamos em obras complexas com essa abordagem: modelo bem estruturado, compatibilização rígida, execução integrada e continuidade técnica. E é esse o caminho que acreditamos: engenharia com método, para construção com futuro.

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